Lediníssimo: O dom de abstrair  

 

Um homem multifacetado, quando se trata da música gospel brasileira e capaz de abstrações artísticas, do fazer, do realizar. Carismático desde menino, sendo o terceiro filho do cantor, poeta e compositor Leonel de Souza e Bernardina Pereira de Souza, a Dona Caçula, Ledinilson Pereira de Souza e suas duas irmãs e seu irmão foram criados na Assembleia de Deus de Nova Aurora, Nova Iguaçú, Rio de Janeiro. Nascido em 31 de outubro de 1968 e, mesmo não sendo o irmão mais velho já que esse lugar pertence à sua mana Lúcia, assume o lugar de primogenitura sendo paternal e protetor da família toda. A força de sua abstração artística a que me refiro reside exatamente àquela operação intelectual, já compreendida por Aristóteles ainda antes de Cristo (383 a.C-322 a.C) e também por Tomás de Aquino (1227-1274) como a origem de todo o processo cognitivo, na qual o que é escolhido como objeto de reflexão é isolado de uma série de fatores que, de forma comum lhe estão relacionados com a realidade concreta. Essa realidade concreta é matemático, racional mas faz desaparecer dos objetos e da própria vida as qualidades sensíveis pois que considera as coisas apenas em seu aspecto mensurável e quantitativo. Led vive de ideias, de concepções sensíveis, então abstrai do todo o abstrato. Isso explica o porque de sua paixão por algumas bandas Gospel já condenadas a desaparecerem do cenário evangélico nacional, já que o seu processo mental isola aspectos determinados, complexos e simplifica a sua avaliação e, permite a comunicação do mesmo.

Como prova do que falo, veja que ele prefere a simplicidade da poesia e da sonoridade musical dos anos 80 e 90, ao som elaborado daquilo que se faz hoje, ao que ele chama de “período poético da nossa música gospel”. Na verdade, para ele o período poético é antes de tudo, uma necessidade de retirar-se para seus próprios pensamentos em um estado de alheamento daquele mesmo garoto que criou bandas, compôs músicas, tocou violão, acompanhou o pai em seus compromissos ministeriais e conheceu todos os artistas gospel indo a shows, igrejas ou atrás de um balcão de loja de discos vinis ou através de sua busca curiosa se fazendo apenas fã. O período poético é o garoto que queria se casar com sua Jussara que, depois de se perderem, se acharam em Campos de Goytacazes, no que não é concreto ou matemático, numa realidade sensível, resultado de sua abstração ou arrastados ambos, ele e ela, pela força do abstrato fez concreto o amor e, finalmente o casamento. Divino e santo alheamento, que lhe deu o dom de observar, simplificar e descobrir a melodia e a poesia que já quase não interessa nesses novos tempos. O que não é concreto, se opera unicamente com ideias, com associações e ações de ideias e consegue abstrair de maneira empírica e distraída, o melhor de si e o melhor dos outros. Este purista, sabendo a arte como algo abstrato como ele mesmo é e, arrebatado por ela, a arte, respeitando representações, conceitos, categorias e outros, está gerando de novo o que já estava na subjetividade humana gospel, nas lembranças.

A geração artística e, que recusavam o ser artista , surgidos nos anos 80 e 90, ressurgem primando pela busca de uma sólida formação e reconhecimento profissional de suas competências, começando por um homenzinho menino que foi profundamente marcado por uma geração passada e já quase embolorada e, então, os coloca em exposição de novo, sem nenhum outro interesse que não fosse a saudade daqueles que, como ele mesmo, tinham como meta o equilíbrio entre a tradição e as propostas ousadas das vanguardas artísticas cristã. Esse Lediníssimo do superlativo absoluto , ousou tendo como base um critério particular: O prazer que lhe dá uma obra ou a produção de um autor que nem sequer é ele, mesmo sendo ele um compositor, só porque acredita, que o trabalho do passado vai permanecer no futuro e, mais que isso, aposta que o valor artístico que hoje ele atribui a diferentes artistas e estilos, vai permanecer e crescerá num futuro. ” Você precisa cantar! Os evangélicos precisam de sua música e de você, ontem, hoje e sempre! “. Ledinilson da Jussara faz isso não porque essas obras fazem parte de uma ou outra escola, tendência ou moda. Ele sabe ser eclético, entendendo que está incluído aí, o prazer que tais obras lhe dão, o interesse pela aventura criativa do artista e a segurança de poder conviver e se comunicar criativamente, de forma sempre renovada, com músicas que não se esgotarão nas primeiras leituras. Led entendeu de pronto e, desde muito cedo que a aventura criativa e expressiva do verdadeiro adorador permanece e evolui no tempo e então, tem a coragem de, decidido, dar maior difusão a ela, expondo-a novamente, a arte e o artista, publicando-os em outras formas e âmbitos.

Ele está ainda, no primeiro módulo de seu enorme desfio e, ainda não consegue dimensionar a importância de seu propósito. Todavia, já sabe o legado que tem nas mãos. Aproveito esse tempo de escrita para dar um recadinho a esse idealizador: No período poético de nossa música, costumávamos falar do que sentíamos. Nas nossas conversas usávamos frases como, “eu sinto isso” ou, “eu não sinto “, e pouco a pouco tal forma de falar foi se perdendo e sendo substituído pela fala “do que o mercado gosta”, daquilo que “o mercado aceita e permite”. É que o sentir foi substituído pelo pensar e, sobre o pensar se quer fundar tudo, então, temos a falta de humanidade que se encontra na arte. Os que só pensam não vão entender o porquê você faz isso. Não se preocupe! Já disse Horácio: “quando que bonus dormitat Homerus”. Ou, às vezes, até o bom Homero cochila.

Por Pr. Ronaldo Reis

 

Por Pastor Ronaldo Reis

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