E se o culto acabar? E se o templo fechar?
Na cultura cristã o centro da espiritualidade é o tempo (algumas vezes bem extenso) codenominado “culto”.
Sem o “culto” fica um vazio na vida espiritual e se o “culto” não for bom, conforme códigos e comportamento pré-estabelecidos, resta é esperar o próximo e ver o que pode ser feito para que o “culto” melhore e os moveres espirituais ocorram de preferência de acordo com aquilo que o grupo acha que são moveres espirituais genuínos e fortes.
Comportamentos pré-estabelecidos, são padrões de conduta em um grupo que informam o quanto alguém está inserido ou não no seu contexto. Explico com exemplos: numa torcida, de um time de futebol qualquer, ninguém espera que alguém faça ovações ao time adversário e nem a qualquer outro time, então para fazer parte daquela torcida o sujeito tem que se comportar de acordo com as pessoas que estão ajuntadas pelo propósito de torcerem pelo mesmo time, cantando, aplaudindo, xingando o juiz as vezes sem nem saber por que, vaiando, vestindo a camisa etc. Todos estes comportamentos nos fazem sentir “IN”. A ausência deles gera a sensação de “OUT”. Comportamentos contrários a estes fazem o sujeito ser colocado “OUT”, mesmo que ele se sinta “IN”; num “culto” chamado pentecostal espera-se que haja muita gente falando alto, grandes expressões vocalizadas de louvor , em alguns “cultos” há pessoas que rodopiam, outros dançam e sapateiam e os pregadores são inflamados e inflamantes; nos “cultos” de adoração extravagante as canções são emocionalizadas, assim como as ações também, os gestos são exagerados. As ações são como as de quem precisa fazer grandes coisas para se destacar entre a multidão e ser melhor visto por Deus. “Eu preciso chamar tua atenção”, dizem com atos litúrgicos os que assim cultuam; nos “cultos” mais ortodoxos há um roteiro prévio, tudo está combinado, nada deve sair do lugar, há oração silenciosa ao final e um prelúdio pra que a assistência se prepare para o “culto”. Estes são apenas alguns exemplos de estilos de liturgia, exemplificando algumas formas que a expressão
chamada “culto” pode ter enquanto manifestação religiosa, na verdade há muitas outras. Toda religião expressa-se por “cultos”.
Se há genuinidade, sinceridade e verdadeira devoção, não me cabe o julgamento nestas linhas, já que para entrar no mérito teríamos que analisar o indivíduo cultuante e não a expressão coletiva pré-determinada pela cultura do grupo.
Muito bem, voltemos aos exemplos, agora misture tudo. Pense em alguém que tenha um comportamento de torcedor em um culto ortodoxo. É impossível imaginar que esta pessoa se senta incluída ou que só não se sentirá um louco se na verdade for louco. Por outro lado, se em um “culto” pentecostal-extravagante eu fico quietinho, com atitude de poslúdio eu serei visto como frio, indiferente. Também o sentimento de não estar “IN” se manifestará. O que quero dizer é que comportamentos pré-estabelecidos existem, são códigos de inclusão (IN) e exclusão (OUT). Ocorre é que nos “cultos” (sejam quais for, evangélicos ou não) eles, muitas vezes, têm a sua face mais feia. Falo da rotulação de quem é e de quem não é. Quem chora é, quem não chora não é. Quem dança é, quem não dança não é. Quem fala é, quem não fala não é. E vice-versa para todas as afirmações anteriores. Estes fatos fazem do que chamamos “culto” verdadeiros espetáculos onde o centro são os comportamentos estereotipados.
O que seria da nossa vida espiritual sem “cultos”? Imagine que a partir de agora nós não tenhamos mais nenhum “lugar-igreja” pra irmos, nenhum “culto” dominical para frequentarmos, como ficaria a nossa sua vida com Jesus? Nós não temos mais nenhum pregador para ouvirmos em lugar nenhum, nós conseguiríamos continuar caminhando no Caminho? Não existe mais nenhuma música de adoração para cantar, nós continuaríamos adorando? Se a resposta for qualquer possibilidade de dizer que seria impossível ou muito difícil permanecer na fé e continuar caminhando, já que nós enfraqueceríamos espiritualmente sem termos um alimento espiritual semanal e um tempo dedicado a oração e a adoração na “igreja”, sinto em dizer, mas essa fé é fé no deus-culto, no deus-igreja, no deus- pregação, na deusa-música e no super deus – templo e seus conservo clericais.
Ver a expressão de “culto” como demonstração de espiritualidade é distorção. Entender que “culto” bom é aquele no qual tudo acontece como achamos que deveria acontecer, ou seja, que a gente faz a nossa parte e Deus faz a dele é reducionismo, é tentar converte-Lo a nossa religião. Usar chavões e palavras de ordem é puro show, é show de manipulação gratuita, intencional ou não, mas é. É show com cara de santo, com hálito de óleo ungido. Se é culto é culto ao homem.
Para muitos o centro da vida é o culto, mas para o Evangelho o centro da vida é Jesus. Dele somos e Nele vivemos.
É impossível não haver culto enquanto bater no peito um coração que encontrou um amor constrangedor como o amor de Jesus. Pode não haver reunião, mas culto há.
Templos é o que somos. Igreja é o que somos. Culto é o que somos. Espiritualidade verdadeira é demonstrada por frutos na vida e não por liturgias, por mais empolgantes que elas possam parecer. Culto de fato, como tempo dedicado a devoção, assim como a vida consagrada ao Senhor é completamente pessoal. Culto bom é você quem faz para você mesmo.
Conduzir-nos a verdadeira adoração é função do Espirito Santo no Corpo. Ele nos conduz a Cristo, a toda Verdade. Não existe o ministério de animador de auditório.
Quanto à importância de cultuarmos juntos. Creio nela, pois é bíblico e necessário a nós que vivamos juntos com amigos e irmãos, mas te aconselho a não se deixar manipular por quem te vê como plateia pro seu show, como massa pro seu bolo e se vê como a cereja da torta. Cuidado, muitas cerejas são apenas cenográficas. È bolinha de chuchu pintada de vermelho e adoçada com calda.
Te recomendo também a ser você mesmo, não queira ser ninguém.
Outra recomendação é que quando for ao jogo no estádio de futebol observe bem a que torcida você está se ajuntando. Um erro neste quesito pode ser fatal. Nos quesitos anteriores também.
No amor de Jesus, o Único digno de receber adoração para sempre e sempre, na vida toda e com a vida inteira.
Fabio Teixeira
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