O dia em que preguei no trem
Final da tarde, final de expediente no trabalho.
Eu havia acordado muito cedo e dormindo muito mal na noite anterior e isso fez com que sentisse uma dor de cabeça Imensa. Tive que tomar uma dipirona.
Você sabe que esse remédio abaixa a pressão, né? Detalhe: a minha já é baixa de natureza, imagina, então, o quadro. Sono, moleza, etc…
Eu morava na Tijuca, Zona Norte do Rio e precisava ir até Campo Grande, Zona Oeste da cidade. Tinha parentes naquela região e precisava ir visitá-los. Como estava no centro da cidade e nunca tinha tido a oportunidade de ir até lá através do transporte conhecido popularmente como TREM.
Era hora do rush, e, como todo mundo sabe, em qualquer capital do Brasil hora do rush o transporte está lotado. Fui até a Central do Brasil, estação muito conhecida por todos vocês (ela foi apresentada no filme Central do Brasil). Sim, a grande estação que recebe todas as vias do Rio de Janeiro.
É realmente um mundaréu de gente que todos os dias se utiliza deste transporte tão importante para seus lares e eu sabia que não ia ser fácil, porém não imaginava algo de peculiar que aconteceria comigo.
Era década de 90, vendedores ambulantes esbarrando nas pessoas e oferecendo seus quitutes nada diets. Procurei um vagão que estivesse mais vazio e encontrei um que em comparação com os outros estava assim. Não era porque estava reservado às mulheres, mas porque algo estava acontecendo ali naquele local, o cenário era este: um grupelho à esquerda que heroicamente se equilibrava jogava cartas vorazmente como se estivesse em um cassino de Las Vegas. Naquela época não existia trem com ar condicionado, as pessoas fumavam desrespeitando as outras, em outro lado rapazes com seus walkmans e Diskman’s gigantes tocavam suas guitarras virtuais com as mãos. Pareciam verdadeiros Jimmy Hendrix. Agora, do outro lado, meus amigos, estava um grupo vestido a caráter: era o vagão dos crentes!
Pois é. Eu, de todos os vagões de um trem, fui parar justamente no vagão dos crentes? (não vejo nada de errado só de curioso!) Obviamente em que lado você acha que eu iria ficar? Com aqueles que estavam fumando? Com a galera que jogava baralho? Claro que não, eu sou crente! Vou ficar com os crentes, até que vagou lugar, pensei eu em dormir pela sonolência:
—Que beleza daqui até campo Grande ouvindo louvores da harpa Cristã, vou dormir muito bem!
Na minha cabeça meus irmãos iriam até seus locais finais apenas louvando a Deus, até porque na minha infância os cristãos costumavam cantando quando viajavam em bandos.
De repente, alguém que parecia ser dirigente clamou:
— Amados e diletos irmãos, vamos começar o nosso culto.
Eu levantei a cabeça e pensei :
—Culto?
Como eles estavam cantando, alguém observou que eu sabia as letras das canções e me perguntou bem alto:
— Irmão, você é irmão?
— Sim
Procurando falar baixinho…
— Olha, irmãos, temos um visitantenesta noite!
Eu me perguntava: “como assim visitante?. Era um vagão de trem!”
O dirigente prontamente ouviu estas palavras e gritou:
— Irmãos e irmãs, temos um visitante!
De repente toda a população daquele vagão parecia estar voltada para mim. Agalera das cartas, galera do cigarro e os irmãos que sorriam para mim. Eu, timidamente, levantei minha mão e disse: “amém“.
— Amém, irmão. Tu és de que igreja?
Timidamente e bem baixinho falei:
—.Rios de Água Viva
—Ah, da Igreja da Água Viva
— Não, irmão(ainda tentando ser discreto e sussurrando).
— Igreja Evangélica Rios de Água Viva
(Esse é o “problema” das igrejas que tem nome muito grande).
Ele nem ligou para mim, como se eu não tivesse dito nenhuma palavra e falou bem alto para todos AOS BERROS:
— Está conosco o irmão… qual o nome do irmão?
— Alexandre…
— Está conosco alessandro da Igreja da Água Viva e esse varão vai ser o pregador da noite neste vagão abençoado!
— Pre, pre, pregador? Como assim irmão? Eu sou visitante, VI SI TAN TE !
Ele virou para mim e disse:
— Abre a boca varão! Deixa Deus te usar!
Eu fiquei atônito. Já tinha pregado na escola, igreja, até mesmo na rádio, mas o que iria falar dentro de um trem lotado?
Não podemos nos esquecer que eu estava no coletivo em movimento, já tinha perdido um lugar para adolescente, minha mochila já estava na mão de uma irmã que segurava com força, ainda tentei fugir dizendo para o irmão:
— Esqueci minha Bíblia em casa.
— Não tem pobrema não, irmão
Eu te empresto a minha.
Agora minha missão estava um pouco mais difícil além de se equilibrar e ficar em pé teria de abrir a Bíblia, ler o texto para fazer o sermão como se estivesse pregando no púlpito de igreja.
Nesse momento o sono era o menos importante.
Foi um momento ímpar em minha vida, os louvores da harpa eram cantados com alegria sem dúvida uma grande experiência, mas voltando a pregação…
Fechei meus olhos e abrir no texto que dizia: “vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados…” Depois do terceiro versículo já já estava acostumado com todo o processo para me manter em pé e conseguir fazer uma pregação.
Até o pessoal das cartas prestava atenção no texto das escrituras. Ao terminar meu sermão estava com as pernas bambas, mas não sentia esta ação pelo tremer da composição. Os irmãos ficaram encantados com exposição da palavra, que eu não lembro nada, graças ao Eterno. Seu Santo Espírito inspirou a mensagem proferida.
Amado, a Palavra de Deus é poderosa e pode alcançar qualquer pessoa em qualquer lugar. Essa história ocorreu em um longo tempo atrás, mas me traz boas recordações. Hoje não tenho dificuldade de pregar em trem, ônibus, metrô ou em qualquer lugar. Foi importante este momento para que eu dependesse apenas de Deus e não do meu conhecimento em teologia.
Na paz,
Alexandre Passos