Rock Cristão: O início de tudo com Larry Norman
Olhando o cenário da música cristã atual, posso dizer que às vezes me sinto um “peixe fora d’água” quando, ao ser questionado pelas pessoas sobre meu estilo preferido, e eu respondo com um brilho nos olhos e um sorriso largo no rosto: “eu curto rock!”. Não é surpresa eu invariavelmente ouvir de volta: “Ah, então você ouve Fernandinho!”. E, com todo respeito a este consagrado músico, eu amorosamente solto a devolutiva: “Brother, bora falar do rock cristão de verdade?”. Em tempo, falaremos sobre o “rock” do Fernandinho futuramente em um de nossos posts.
Estou para completar 48 anos e, seguramente, sou de uma época em que pude acompanhar a efervescência do rock no meio cristão. Obviamente, um tempo que não foi fácil para os desbravadores dessa vertente no ambiente congregacional, afinal, naquele tempo (anos 1970 a meados da década de 1990) se falava muito que o rock era do diabo, talvez parafraseando Raul Seixas e o trecho “o diabo é o pai do rock” de sua conhecida canção Rock do Diabo. E, felizmente, vimos que está frase estava totalmente equivocada!
Mas bora lá! Nesta coluna falaremos, a partir de agora, sobre o rock cristão, de suas origens até a atualidade, do rock raiz até o heavy metal cristão. Espero humildemente surpreendê-lo com a infinidade de categorias encontradas neste estilo tão marcante!
Quando surgiu no meio secular, nos anos 50 e 60, o rock nos apresentou bandas e artistas que marcaram a música mundial, e se tornaram verdadeiras lendas, como Bill Halley & The Comets, Chuck Berry, Little Richard, Elvis Presley, The Beatles, Rolling Stones, Jimmy Hendrix, entre outros (a lista aqui ficaria grande demais!). No meio desse cenário eletrizante surge, nos EUA, Larry Norman, até hoje considerado como o “pai do rock cristão”.
Larry Norman, nascido em 1947 na cidade texana de Corpus Christi, nós Estados Unidos, criou em 1968 a banda People, já no primeiro album I Love You, emplacou a canção de mesmo nome entre as 20 mais tocadas na Billboard. O ponto forte de Larry, além de introduzir o rock no cenário cristão, foi o fato de contextualizar o cristianismo com os temas da sociedade e, desta forma, conseguiu alcançar o coração de muitas pessoas com a mensagem redentora da cruz!
Em 1969, Norman seguiu carreira solo e lançou seu álbum Upon This Rock, onde está a sua canção “I Wish We’d All Been Ready” (Eu queria que todos estivessem prontos), uma de suas mais marcantes canções!
Ainda muito criticado pela religiosidade tradicional da época, Norman seguiu em frente e em 1972 lançou o clássico “Why Should The Devil Have All The Good Music” (Por que o diabo tem que ficar com toda boa música?). Esta música foi com certeza um claro recado para a comunidade evangélica de que era, sim, possível ser cristão e curtir um bom rock and roll!
Em 1972 sua carreira teve um forte crescimento após ter aparecido ao lado de Billy Graham na Explo 72. Larry Norman, com seus cabelos lisos quase brancos até os ombros, camiseta e jeans não era o estilo tradicional de roupa que se via nas igrejas, mas isso o ajudou a alcançar seu objetivo, que era o de se aproximar dos mais jovens dentro e fora da igreja, pois era exatamente esse público que lotava seus shows e comprava seus discos.
Nos álbuns de Norman, e que se via era um mix de rock pesado com letras fortes, mas que também algumas canções mais descontraídas, sempre mostrando a importância da mensagem da cruz, tendo Jesus sempre como centro da temática que abordava. No final dos anos 1970 ele ainda fundaria o selo Solid Rock Records.
Em 1978, Larry sofreu um acidente grave de avião, quando a porta do compartimento de bagagens do avião em que estava se abriu, o que deixaria sem gravar por longos 12 anos que se seguiram. Além disso, enfrentou um problema com a Word Records, o que fez com que a Solid Rock suspendesse suas atividade. Foi então que Norman de mudou para a Europa e criou o selo Phydeaux. Em 1993, sofreu um forte ataque cardíaco que o obrigou a se submeter a uma cirurgia de alto risco, o que o deixou com sequelas cardio-respiratórias. Mesmo assim, fez algumas apresentações, mas não com muita frequência.
Em 2001, ao lado de Elvis Presley, foi recebido no Hall da Fama da Música Gospel. Porém, neste mesmo ano, teve de se submeter a uma revascularização cardíaca que o forçou a anunciar sua aposentadoria.
Em Dezembro de 2003 ele fez seu show “de despedida”, que acabou gerando mais dois shows adicionais, um na Noruega e outro em Salém. Naquele seu último show, Norman disse ao seu público: deles. Naquela data, Norman declarou ao público: “Até onde posso dizer, esta é a última vez que terei condições de tocar na América, na Europa e no planeta Terra”. Infelizmente, para tristeza de seu público, seria mesmo a última vez que se apresentaria.
Larry foi “promovido” aos céus as 2:45 da manhã de 24 de fevereiro de 2008, um domingo. No dia 23, o sábado a tarde anterior, já sentindo que sua partida estava próxima, ele ditou uma mensagem de despedida aos seus amigos e admiradores através de seu amigo Allen Fleming, que dizia:
Eu me sinto como um brinde numa caixa de guloseimas com a mão de Deus tentando me alcançar. Tenho estado sob cuidados médicos por meses. Minhas lesões estão piorando. Tenho dificuldades para respirar. Estou pronto para voar para casa. Não vou estar por aqui por muito tempo. Não há nada que eu possa fazer sobre isso. Meu coração está muito fraco. Eu desejo dizer adeus a todos. No passado vocês generosamente me sustentaram com suas orações e finanças e eu provavelmente ainda vou precisar de ajuda financeira. Meu plano é ser sepultado em um caixão simples de pinho, com algumas flores dentro. Eu gostaria de afastar a escuridão com meu mais nobre esforço. Haverá informações sobre o funeral no meu website, em caso de algum de vocês desejar comparecer. Nós não estamos certos da data em que vou morrer. Adeus, até logo, nos veremos de novo.Adeus, até logo, nos veremos de novo
Em algum lugar além do céu
Eu oro para que vocês fiquem com Deus
Adeus, meus amigos, adeus.
Grandes artistas foram influenciados e se declararam fãs de Norman, como Frank Black, dos Pixies (que inclusive foi um dos convidados de seu concerto em 2005), DC Talk, Guns ‘n’ Roses e até Paul McCartney (Beatles) elogiou seu trabalho. Dizzy Reed, tecladista do Guns, tocou em seu álbum de 1988, Cooper Wires.
Foi de Larry Norman o gesto com a mão fechada e o dedo indicador apontado para o céu, indicando que do existia um único caminho para o céu, que é Jesus Cristo, e que tornou-se sua marca registrada.
E assim, estava aberto o caminho para o rock cristão no mundo todo, e outros grandes expoentes desse estilo tão marcante viriam logo depois, inclusive no Brasil, mas este é um assunto para os próximos posts.
Até breve!
Marcelo Dutra
Analista de Sistemas Senior, casado, pai e avô, que ama a Deus sobretudo, e curte um bom rock and roll com letra e música inteligentes.
Muito legal conhecer a história da música gospel e não podia faltar, é claro, o nosso bom” rockin roll”. Obrigada, Marcelo, por nós trazer este conhecimento.
Adorei também que disponibilizou os caminhos na internet para conhecer do que se falava.
Parabéns!!!
Aguardando a próxima postagem.
Comentário inteligente e real, Rock and roll de qualidade sim é possível, e desde os primordes com Norman , passando por Petra e outras tantas outras bandas, assim como no Brasil com Resgate e outros … Rock é sim um estilo de música inteligente e que Deus se agrada …
Que show de matéria , uma verdadeira escola se rock !! O único problema é que acorda você precisa se superar , pois aumentou em muito nossa espectativa ! Parabéns
Grande Marcelo Dutra, uma pessoa admirável, talento de outro patamar, ser humano com as características do teu mestre. Tive a honra de conhecer, e fazer uma linda amizade. E também mando um grande abraço ao idealizador desse projeto revivagospel , meu também amigo Lednilson.
Com vocês meu horizonte de conhecimento da música gospel cresceu muito.