Pastores, ovelhas, lã e gordura!
“O tempora, o mores!” Foi a exclamação de Cícero (1550), que traduzido do latim é “Ó tempo, Ó costumes”. O grande orador e político romano do século XV exclama assim quando se depara com a depravação dos homens de seu tempo.
Tem sido essa nossa exclamação! Estes nossos fins de tempo são prenúncios do arrebatamento da igreja para o seu verdadeiro lar e , enquanto isso não acontece, o que temos é um tempo de projeto de demolição de valores eternos, de espaços a serem preenchidos. É a presença e a ausência, a lembrança e a esperança.
O sentido de familiaridade é eliminado e os líderes cristãos adotam uma qualidade no mínimo enigmática! Já não se parecem mais totalmente sólidos, são inacessíveis e logo preenchidos pela imaginação de seus liderados e mais parecem a gravura de uma imagem fotográfica, de algo esculpido em pedra, gesso ou acrílico, cuja imagem nos surpreende com seu par de olhos, sendo um olho de vidro e o outro é uma tampa de garrafa. Precisamos deles como precisamos de aparelhos domésticos, como se fossem refrigeradores ou freezers. Alguns deles parecem ter as superfícies externas lixadas e, então, se tornaram opacos, resultando em volumes internos, intrigantemente difusos e potencialmente gélidos. É um grupo imenso que falam iguais, vestem-se iguais, todos tem o mesmo tipo de carro, o mesmo tipo de casas e de pensamentos que mais parecem imagens manipuladas repetidamente, técnicas manuais de colagem, programas de computação.
Essa similaridade formal, suas funções e disfunções acabam por serem conhecidas e nos vem a constatação de que seu olho de vidro retém mais luz de palco do que o olho de tampinha de garrafa e, friamente formais, expostos como pedras, mas não aquela quebrantada pelo canto do galo! Apenas pedras dispostas como numa classificação de amostras geológicas.
O seu interesse pela ovelha é parte de seu interesse contínuo por métodos de preservação ou autopreservação e está vinculado à sua preocupação com a imortalidade de seu nome, de sua vida e status terreno. Vai precisar de um tanque de formol e isso requer dinheiro. Nasce também de uma irreprimível ousadia do desejo de ser um ícone, uma lenda, uma personalidade. Possuem um espírito agressivo, predatório e então, por isso mesmo, precisam ser inovadores sempre inventando um jargão “crentês” novo! Em alguns momentos mais parecem objetos expostos como se estivessem em uma vitrine de museu. Esta multiplicidade de traços, pensados e de precisão ordenadamente dispostos, facilita o seqüestro da lã e da gordura da pobre ovelha. É o presságio de uma tragédia iminente.
O mais perigoso de tudo isto é que as ovelhas transformam-se em mariposas e voam repetidamente ao redor da tênue claridade da luz de palco produzida pelo olho de vidro, chocando-se contra ela a pobre ovelha mariposa, em um estado de leve excitação. A luz de palco sedutora, que não tem nenhuma utilidade para as ovelhas que agora só mariposas, provavelmente acelerará suas mortes e as ovelhas mariposadas não sabem, não percebem, mas a luz naquele olhar envidraçado é de baixa voltagem, o que insinua uma vida miserável em um cenário ambíguo.
Mas as ovelhas estão vindo de hotéis baratos, de botecos espirituais e assumem a identidade de um trauma! São testemunhos de maus eventos passados e também presságios do que ainda está para acontecer. As ações sobre as ovelhas deixam marcas, construções frágeis, vestígios de um evangelho onde uma nota aqui, uma impressão ali.🎶
Os verdadeiros e genuínos pastores extraem sistematicamente de seu próprio corpo, durante muitos períodos, o equivalente a todo o seu volume sanguíneo, aproximadamente quatro litros de sangue! Ele termina por ser um combinado de anticoagulante e antibiótico para a cura da ovelha doente até que ela tenha bastante gordura e lã. O verdadeiro pastor possui este material pessoal congelado e solidificado em um tempo de choro, leitura bíblica e oração e está isso sempre à disposição da ovelha gorda ou da ovelha magra, da ovelha saudável ou da doente. Apesar da vulnerabilidade do pastor, que pode ser interpretada mais como uma aposta na sua constante morte, os fluídos vitais do corpo normalmente circulam e se renovam. Ele faz uma escolha e então deixa nas ovelhas suas impressões de pastor, de chamado e de entrega. Mas os outros pastores também deixam suas marcas em suas ovelhas quando estas são manipuladas, cortadas, brutalizadas e alteradas.
De maneira típica, pode-se questionar a relação entre a aparência externa e o estado psicológico interior, entre o corpo e a alma da pobre ovelha! Estes pastores desenvolvem uma técnica elegante e esquemática para atuarem sobre o rebanho que lhes dá uma superfície impenetrável e de alto brilho, numa representação da polida linguagem dita pastoral, minimalista e convincente onde as pregações são mais temas nas imagens da cultura popular, como a exemplo da performance de auto-ajuda ou crendices, quase sempre formas belas e patéticas e, por outras vezes, a dominação através do medo e ou chantagem emocional prometendo o que não pode, com o objetivo de produzir um efeito emocional onde ele mesmo se transforma em mãos, pés, ursinhos, plantas, animais e todos cobertos com um verniz viscoso transparente e com a sensual justaposição de cores pastéis. A identidade real do tema pregado está freqüentemente oculta no estilo pessoal sem dúvida escolhido e, às vezes, ensaiado pelo poder de despertar emoções. Ele é quase um artista em silhuetas com detalhes salientes e que permanece um sedutor na fala, no par de olhos e no sacudir das mãos, enquanto, basicamente, a mensagem é de características antropomórficas, que é o descrito ou concebido em forma humana e com atributos humanos apenas.
Este é um estranho ser! Trata-se de um pastor mimoso ou de uma besta predatória? E a ovelha? Em sua gordura revestida por lã, é só um bem, um tesouro a ser preservado, pois que traz rendimento! Mas ainda inacabado, uma tinta derramada numa forma limitada pelas tensões profundas, mas tratadas com superficiais que não questiona a natureza da tinta em si, a forma, o material e a técnica de seu pastor que abrange tanto a imagem quanto o conteúdo.
São exploradas em sua gordura ela, mas também exploram em seus motivos florais estilizados confortáveis objetos de ornamentos! Não são mais do que máscaras artificiais banais e desagradáveis, mas que possui valor por sua gordura e lã.
O mercado consumidor aproveita até o seu berro, e isso à preço quase improvável, enquanto destrói o senso histórico cristão e elas, as ovelhas, freqüentam as reuniões de cultos, de oração e louvor, com um carrinho de supermercado, buscando enchê-lo de objetos obsoletos etiquetados com a palavra ”barganha”. Elas, as ovelhinhas, gostam da agressão da pechincha, já que o local está cercado de estandes que anunciam em textos e luzes que incitam os visitantes e freqüentadores (não há membros! ) a comprar, enquanto faixas anunciam a liquidação junto com a responsabilização, pois, caso contrário, “se dará fechamento do estabelecimento”! É o encontro do mercantilizador, da mercantilização e o mercantilizado, onde não se sabe ao certo quem ou o que é o produto. É a recessão do evangelho e a inevitável questão sobre o valor da ovelha.
De um lado o conceito da ovelha, sua lã e sua gordura como objeto, a veneração quase religiosa por esses líderes! E do outro lado, a condição heróica da igreja pura de Cristo que através da utilização da pura Bíblia Sagrada como código e princípio aceito, tem na terra sua assinatura e atribuição. Quanto a ela, a igreja, não se questiona sua autoria e autenticidade. Aos pastores e suas ovelhas, feliz dia dos pastores. Àqueles com um olho de vidro e o outro de tampinha de garrafa…
Por Pastor Ronaldo Reis
Muito bom! Parabéns!! Contemloranjssimo, se assim posso dizer…rsrs