Levanta…e anda!

Era o ano de 1984, final de regime militar. O presidente era João Batista Figueiredo. A emenda de Dante de Oliveira que estabeleceria eleições diretas foi rejeitada no pelo Congresso, surgindo ainda no ano corrente o movimento Diretas Já.
Na TVS (SBT), é exibido o primeiro episódio da série “Chaves” no Brasil, com o episódio: “O Matador de Lagartixas”. Já no mundo da Tecnologia a Apple Computers Inc. lança o Macintosh.

Eu tinha 13 anos de idade, estava cursando quinta série do ensino fundamental, estudava no colégio muito simpático na Tijuca chamado Soares Pereira, eu não era um garoto muito bom de estudos. Confesso que era um estudante mediano.
Meu atual pastor havia recém chegado dos Estados Unidos e nossa igreja estava em fase embrionária. Nós já frequentávamos cultos realizados por esse nosso querido amigo José Filho. O mais interessante foi a influência evangelizadora que ele conseguiu IMPUTAR em mim. O seu amor por almas perdidas encanta qualquer um que ouve suas palavras. Obviamente, o resultado foi meu coração voltar-se para também pregar este evangelho lindo.

Imagine a situação: um garoto ativo e participante das aulas. De certa forma minhas ponderações despertavam atenção de crianças da minha idade e desta forma aproveitei esta certa influência para começar a fazer pequenas reuniões em períodos que os professores faltavam. Já naquela época existiam problemas de pagamento  dois salários do corpo docente.
Então no mínimo três vezes por semana existiam cerca de 40 minutos vagos em que a turma ficava sem rumo e sem aulas.
Aproveitei e reuni os amigos para fazer uma leitura bíblica e um comentário. Desta forma passei a pregar no colégio.

Interessante é que deu tanto certo que quando tinha gente demais nós conseguimos até mesmo a chave do auditório e do piano, e as reuniões acabaram se tornando populares e respeitadas pelo corpo de mestres e de diretores da escola. Aparentemente a pregação do evangelho acalmava os alunos (hoje isto seria impossível) não podemos nos esquecer que ainda estávamos sob regime militar. A direção apoiava e os jovens ouviam a Palavra de Deus.

Eu não tinha conhecimento teológico ou talvez uma expertise de pregador que decora versículos e capítulos, mas tinha o coração desejoso de ver as pessoas ouvindo a verdade das escrituras. Eu não tinha oratória ou preparo de um sermão, eu tinha boa vontade! Um dia que estava “inspirado”, não havia levado a Bíblia para a escola, mesmo assim arrisquei começar o meu sermão:

—Irmãos e irmãs, vocês sabem que estou aqui para falar de Deus! Quero contar uma história maravilhosa: um dia Paulo e Silas estavam indo ao templo orar em Jericó, quando no meio do caminho viram um cego e
Paulo perguntou ao homem: “O que queres que eu te faça?” E o cego disse: “que eu possa ver!”
Então Paulo fitando os olhos no cego disse:
“em nome de Jesus de Nazaré levanta-te e anda!” E o milagre aconteceu, ele começou a andar e a dançar adorando a Deus!

Meus amados, eu perdi a noção total das histórias. Misturei história de Jesus, troquei Pedro e João por Paulo e Silas, realizei o maior “milagre”: através da minha pregação, TODA ERRADA fiz o “cego andar”! (Kkkkkkk)

Porém, Deus usa de misericórdia para com aqueles que têm o desejo de fazer o certo. Eu me lembro que dava um bom testemunho e o trabalho que realizavamos surtia efeito, já haviam pessoas que estavam sempre conosco ouvindo a mensagem. Eu sinceramente não sei como e por que isso aconteceu, no dia desta pregação TRÊS ALMAS SE RENDERAM A JESUS. Racionalmente, não podemos entender o porquê esses jovens levantaram as mãos quando realizei o que chamamos de “apelo”. Este jovens entregaram suas vidas ao Senhor Jesus naquele culto onde eu fui de encontro a todas as regras da homilética da hermenêutica e da oratória, fora a confusão teológica que cometi.
Entenda: eu era só um garoto de 13 anos, o coração estava na obra.

Resultado, meus amados leitores: as três almas que se converteram continuaram me acompanhando e foram discipulados ainda mais 3 anos na escola.

Maurílio (in memorian) se tornou pastor na Argentina, Joaquim se tornou um crente fiel, hoje bom marido, formado. Até hoje frequenta a mesma igreja que eu. Marreco filiou-se à Assembléia de Deus e pela última notícia que tive dele era presbítero. Provavelmente, hoje já seja pastor.

Esses foram os três que entregaram suas vidas neste culto. Agora, no final, acabei de me lembrar do Ferreirinha que se tornou um crente com um coração evangelístico e na ocasião deste culto já tinha se convertido no trabalho.

Nós levamos esta prática até o ensino médio e  tivemos muitas pessoas que ouviram a Palavra e se encontraram com Jesus. Hoje, eu só tenho contato com o Joaquim e, lamentavelmente, o pastor Maurílio faleceu em 1993, tendo-se tornado um dos grandes pastores de uma igreja brasileira na Argentina.

O QUE APRENDO COM ISSO?

Às vezes, nós ficamos presos deixando de evangelizar o pecador por não se achar PREPARADO teologicamente para tal função. Isso não significa que eu e você não cometeremos erros, mas que teremos oportunidade de superar isso e expandir o Reino de Deus. Acredito sinceramente que Deus viu o meu coração sedento por falar de Jesus, por isso exerceu a sua misericórdia para que aqueles três jovens tivessem o encontro com a Palavra. As minhas palavras humanas não geram RHEMA, mas o ESPÍRITO SANTO cuidou para que o que saísse da minha boca pudesse transformar aqueles jovens.

Finalizando o nosso texto, quero dizer que nada hoje em dia justifica a pregação do evangelho sem a interpretação bíblica minimamente correta, basta contar o seu testemunho de vida para que uma pessoa receba revelação de Deus.

Na paz,
Alexandre Passos

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